segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Exercício Físico e vacinação



Como todos sabemos, nosso organismo está em constante tentativa de se adaptar ao ambiente. No caso do sistema imune (SI), a adaptação consiste em reconhecer possíveis agentes causadores de doenças e produzir contra eles respostas específicas. Ou seja, anticorpos (produzidos pelos linfócitos B) e células T ativadas contra o dado agente patogênico.

Essa capacidade imune foi explorada no século XVIII pelo médico inglês Edward Jenner que, ao injetar pus de feridas de vacas infectadas com varíola bovina em um menino de quatorze anos, conseguiu imuniza-lo contra a varíola humana, uma doença que matava muitas pessoas nessa época. A imunização só foi possível pelo fato dos causadores da doença na vaca e na criança serem bem parecidos. Assim, o menino, ao produzir anticorpos e linfócitos T contra o causador da varíola bovina acabou, “por tabela” gerando medidas adaptativas eficientes contra a doença em humanos.

A vacinação é hoje a forma mais eficiente e com melhor custo-benefício para prevenção de doenças. Infelizmente, para que uma vacina funcione ela precisa provocar o sistema imune com uma eficácia tal que este sistema possa responder de forma adaptativa. Na prática, diversos fatores afetam a eficácia das vacinas sendo uma delas a idade.  Por exemplo, para adultos jovens a vacina para a gripe tem uma eficiência de 70%a 90% enquanto que num idoso essa eficácia é de apenas 17-53%! Além da idade cronológica, outros fatores como ser portador de determinadas condições (ex. diabetes, doença cardiovascular, alguns tipos de câncer, osteoporose, estresse crônico ou depressão, consumo excessivo de álcool dentre outros) também reduzem a eficácia de uma dada vacina.

O exercício físico, ao contrário é um fator ambiental descrito na literatura científica como capaz de aumentar a eficácia das vacinas. Alguns aspectos interessantes disso é que tanto o exercício agudo como o crônico seriam capazes de otimizar o efeito das vacinas. O exercício agudo pelo aumento temporário (durante e/ou logo após o término) de vários aspectos da funcionalidade imune já o exercício crônico pelo fato da imunidade ser fortalecida pelo exercício crônico. Além do que o exercício parece só ter eficácia no caso de vacinas que apresentam baixa eficácia (ou seja, se a vacina per se já tem boa eficácia o exercício praticamente não influencia).

O propósito deste texto é introduzir esse tópico é informar mais esse efeito do exercício e não discutir, nesse momento, profundamente os artigos que tratam desse campo de estudo (do exercício atuando como estimulador do efeito da vacinação). Nesse sentido, para aqueles que desejam se aprofundar recomendo a recente revisão de Pascoe e colaboradores (2013).

Serão ainda necessários diversos estudos para que sejam estabelecidos os protocolos ideais para que o exercício promova o máximo de resposta à vacinação. De qualquer maneira, na supracitada revisão, conclui-se haver evidências iniciais de que o exercício agudo (15-30 minutos antes) bem como o crônico potencializam a resposta à vacinação, especialmente em indivíduos que normalmente apresentam resposta imune comprometida (a maior parte dos estudos é com idosos).

Acreditamos que essa seja uma importante era de pesquisa e que ela acabará revelando mais um momento para a prescrição do exercício (antes da vacinação) e/ou explicando como, pelo menos em parte, o exercício físico crônico contribui para a melhoria da saúde via melhoria da imunidade.

Ref - Brain Behav Immun. 2013 Oct 11. pii: S0889-1591(13)00502-3. doi: 10.1016/j.bbi.2013.10.003. [Epub ahead of print]
The effects of exercise on vaccination responses: A review of chronic and acute exercise interventions in humans.

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