sábado, 9 de agosto de 2014

Dano celular muscular e dor muscular de início tardio (Boletim FCM-UNICAMP, junho de 2014)

A prática regular de atividade física, principalmente o exercício físico bem orientado é sem dúvida alguma um importante componente para manter a saúde, ou ainda, aditivamente no tratamento de diversas patologias, como algumas doenças cardiovasculares, metabólicas e ósteo-músculo-articulares. Porém, o início da prática de exercícios físicos pode vir acompanhado de dores musculares no dia seguinte, denominado de dor muscular de início tardio (DMIT, e em inglês Delayed Onset Muscle Soreness [DOMS]), esta tem início nas primeiras oito horas após a sessão da atividade física, atingindo o seu pico nas 24 ou 48 horas no grupo muscular treinado.
A etiologia da DMIT ainda não está bem definida, porém existem diversos fatores relacionados ao surgimento dessa, como o dano celular muscular, a inflamação (i.e. aumento de PGE2, edema), o aumento do estresse oxidativo (radicais livres) e o espasmo muscular (i.e.  isquemia e acúmulo de metabólitos). O surgimento da DMIT é mais frequente em indivíduos pouco ativos e sedentários, ou ainda quando realizamos treinos, exercícios ou movimentos (principalmente em contrações excêntricas, e.g. descer uma longa escadaria) que não estamos acostumados, portanto, o começo de um treinamento físico geralmente é acompanhado de uma sensação dolorosa na musculatura exercitada, muito sensível à palpação, acompanhado também de edema, aumento da atividade enzimática no sangue de proteínas como a creatina quinase (CK) ou lactato desidrogenase (LDH) e com a diminuição da flexibilidade e força. Pode parecer um quadro desanimador para a saída do sedentarismo, e início de uma vida mais ativa fisicamente, porém vale apena ressaltar que o quadro é transitório, alguns pesquisadores na área inclusive denominam como “microtrauma adaptativo”, o que torna o indivíduo treinado menos susceptível a DMIT e ao dano muscular.
Uma das causas mais relacionadas à DMIT é o dano ou lesão da célula muscular, que é caracterizado pelo rompimento da membrana (sarcolema), onde há o extravasamento do seu conteúdo intracelular para o extracelular, esse pode ser medido no pelo aumento da atividade de CK e LDH, e a concentração de mioglobina e troponina no sangue. Esse dano pode ser causado pela alta da carga de treino, contrações musculares vigorosas e/ou volumosas, principalmente as excêntricas, onde as estruturas miofibrilares não suportam o estresse mecânico, gerando um desarranjo nos sarcômeros (e.g. rompimento das linhas Z), e dano em diversas estruturas da fibra muscular, como retículo sarcoplasmático, túbulos transversos e sarcolema, consequentemente a capacidade de gerar força fica diminuída, o que atualmente é considerado um dos marcadores para o dano muscular.
Geralmente a DMIT está relacionada à intensidade do exercício, ou seja, o peso exagerado que é colocado na barra ou no equipamento de musculação, ou ainda na velocidade da corrida, porém o volume (quantidade) também é importante, o número de séries e repetições nos exercícios de musculação, ou a quantidade de quilômetros que um indivíduo corre quando demasiado também pode ser significativo para o surgimento da DMIT. Sendo assim, principalmente para um indivíduo pouco ativo fisicamente, o controle dessas duas variáveis é muito importante. 
No início de um programa de exercício físico, evite nas primeiras semanas alta intensidade e alto volume, comece com pouco peso, e um baixo número de séries e repetições (e.g. 1 a 2 séries de 12 repetições), e aumente a carga de treino progressivamente, assim terá um começo menos dolorido e mais prazeroso. 

Prof.Dr. Marco Carlos Uchida
Professor do Departamento de Estudos da Atividade Física Adaptada, FEF/UNICAMP
Líder pesquisador do GEPEFAN – Grupo de Estudos e Pesquisa em Exercício Físico e Adaptações Neuromusculares

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Doenças Metabólicas e Sistema imune

A cada dia fica mais clara a associação entre alterações metabólicas "patológicas" e a deterioração do sistema imune causada por tais alterações. Por outro lado, a prática regular de exercícios tende a ajustar o metabolismo e consequentemente o sistema imune. Entenda um pouco mais como isso acontece nessa revisão que publicamos esse ano. Abaixo o resumo:



Glucose and glutamine are important energetic and biosynthetic nutrients for T and B lymphocytes. These cells consume both nutrients at high rates in a function-dependent manner. In other words, the pathways that control lymphocyte function and survival directly control the glucose and glutamine metabolic pathways. Therefore, lymphocytes in different functional states reprogram their glucose and glutamine metabolism to balance their requirement for ATP and macromolecule production. The tight association between metabolism and function in these cells was suggested to introduce the possibility of several pathologies resulting from the inability of lymphocytes to meet their nutrient demands under a given condition. In fact, disruptions in lymphocyte metabolism and function have been observed in different inflammatory, metabolic, and autoimmune pathologies. Regular physical exercise and physical activity offer protection against several chronic pathologies, and this benefit has been associated with the anti-inflammatory and immunomodulatory effects of exercise/physical activity. Chronic exercise induces changes in lymphocyte functionality and substrate metabolism. In the present review, we discuss whether the beneficial effects of exercise on lymphocyte function in health and disease are associated with modulation of the glucose and glutamine metabolic pathways.