segunda-feira, 11 de abril de 2016

Quem diria: transformar carboidratos em lipídios pode evitar o pior!



O assunto da presente “publicação” não trata da atividade física/exercício, mas versa sobre algo que gera muitas dúvidas nas pessoas envolvidas com atividade física/exercício: a síntese de novo de lipídios (SDL) ou síntese de novo de ácidos graxos. Ou seja, a transformação de carboidratos (também proteínas, álcool) consumidos acima das necessidade calóricas diárias em lipídios. Em seres humanos há dois sítios nos quais esse processo ocorre predominantemente, o fígado e o tecido adiposo sendo o primeiro quantitativamente o mais importante.
O fato de a Lei da Termodinâmica dizer que a “energia não ser criada nem destruída, só transformada” levou inicialmente a se pensar que em termos bioquímicos a SDL seria uma forma ajudar o corpo a armazenar mais energia já que os lipídios conseguem ser estocados em maiores quantidades (e possuem mais energia) em comparação aos carboidratos em nosso organismo (logo, ela seria uma forma de aumentar as chances de sobrevivência!).
Contudo, estudos usando tanto calorimetria indireta como isótopos não apoiaram essa visão demonstrando que apenas uma pequena parte das calorias consumidas em excesso na forma de carboidratos chega a, efetivamente, ser transformada em lipídios. Por exemplo, foi demonstrado que o consumo de 1000 kcal acima da necessidade energética diária na forma de carboidratos ao longo de 3 semanas aumentou apenas em 2% o peso corporal (embora aumentasse em 10 vezes o conteúdo de gordura do fígado). Somente quando os carboidratos são consumidos em excesso de forma totalmente “não natural” (7000 Kcal por dia durante 10 semanas por um povo da Camarões -  África) é que a quantidade de gordura corporal parece aumentar significativamente (12 quilos). Assim, passou-se a considerar que a SDL é uma via muito dispendiosa em termos que produzir carboidratos (foi estimado em ratos que ela consumiria o equivalente a 20-25% do conteúdo energético dos carboidratos na transformação). Então, ao contrário do que a maioria das pessoas acredita não é tão simples engordar a partir do consumo excessivo de carboidratos.
A observação de que em patologias como a obesidade, síndrome metabólica, esteatose hepática não alcóolica além de tecidos infectados por vírus ou cancerosos trouxe “nova luz” a um potencial papel negativo da SDL. Nesse particular tem se observado que realmente a via passa a acelerar e no fígado há um grande aumento da produção de lipídios a partir de carboidratos. Contudo, por ser uma via “dispendiosa” tem se discutido que, na verdade, a via funciona como uma proteção: no final menos gordura acaba sendo armazenado do que seria caso a conversão de carboidratos não fosse tão dispendiosa. Assim, o fato da SDL estar aumentada nessas patologias/condições mencionadas acima, pode representar uma defesa do organismo. No fim, parece que transformar o excedente energético na forma de carboidratos em gordura pode evitar o pior.

Referências
1.     Ameer – Metabolism Clinical and Experimental 63(2014), 895-902
2.     Solinas – Molecular Metabolism 4(2015), 367-377

3.     Hellerstein – Am J Clin Nutr 2001, 74, 707-8

Pesquisa experimental sobre o efeito anabólico do exercício aeróbio em condição patológica


Caros, esse é um trabalho interessante avaliando os mecanismos moleculares por meio dos quais o exercício aeróbico é capaz contrapor a ação catabólica da insuficiência cardíaca sobre a massa muscular esquelética. A maioria dos trabalhos anteriores investigou o efeito anti-proteolítico do exercício e não seu efeito em vias de síntese protéica como no caso de nosso novo trabalho. Aos interessados tenho o artigo na íntegra. Abc, Frank.